sábado, dezembro 20, 2014

Brazilian surf dream


Dia 19 de dezembro de 2014. Dia histórico para o Brasil.

Gabriel Medina, com 20 anos, conquistou de forma fantástica o título. Entretanto, não foi o primeiro campeão mundial brasileiro no surfe. Assim como em vários outros esportes, o surfe é dividido em diversas categorias (que bom!), e os brasileiros já beliscaram o troféu em quase todas elas. Seja deitado em cima de uma prancha, como Guilherme Tâmega, que ganhou o mundo 6 (seis) vezes e se manteve no topo do bodyboard por muitos anos. Seja em cima de uma prancha 'grande', como fez Phil Rajzman em 2007, ou surfando ondas gigantes, como fez Carlos Burle em 1998. Já tínhamos sido, inclusive, algumas vezes campeões mundiais pró-juniores, com Fabinho Gouveia em 1988, Adriano de Souza (minerinho) em 2003 e Pablo Paulino (bi) em 2004 e 2007. Na divisão de acesso (WQS) o Brasil também já havia ganho títulos mundiais com Teco Padaratz em 1992 e 99, seu irmão Neco em 2003 e 2004, Vítor Ribas em 1997, Fabinho em 98, Armando Daltro em 2000, Minerinho em 2005 e Felipe Toledo esse ano (2014). Um cenário que ainda não fincamos a bandeira no lugar mais alto é o feminino, porém as chances são enormes na próxima temporada (2015), já que a arretada cearense Silvana Lima estará no circuito novamente.

O dia foi histórico pelo título em si, porque o circuito profissional do WCT no surfe pode-se equiparar com a Fórmula 1 no automobilismo, como categoria com mais visão na mídia, prêmio maiores, etc. E a melhor colocação do Brasil, até então, tinha sido do cabofriense Vítor Ribas, com o 3º lugar em 1999. Mas na verdade, considero esse dia histórico também por representar uma quebra de barreiras. Ver pessoas conservadoras aplaudindo um surfista campeão mundial, significando que jogou fora aquele velho preconceito contra o 'drogado vagabundo' que não tem o que fazer (surfista), por isso consegue surfar. Ver, mesmo que fruto da abordagem sanguessuga da grande mídia, pessoas assistindo e comentando imagens de campeonato de surfe, seja nas rodas de conversas ou na grande rede mesmo.

Como tenho falado já há algum tempo, acho que a população está se dando conta que podemos falar que o Brasil é o país do Surfe, isso mesmo com -e no final, pra ficar bem brasileiro !

terça-feira, dezembro 16, 2014

Ô Xente !

Alvo de comentários xenofóbicos, após a reeleição de Dilma pra Presidência, o Nordeste, para nós brasileiros, principalmente os moradores da zona costeira sudeste/nordeste, tem enorme importância. Não falo apenas da região político administrativa da nossa república, que além de ser parte da minha ascendência, sempre mostrou brilhantes artistas e escritores que fizeram e fazem parte da essência da cultura brasileira.
Falo aqui, predominantemente, do vento.
Por conta da atuação do sistema semiestacionário Anticiclone Subtropical do Atlântico Sul (ASAS), sistema de alta pressão atmosférica, que na sua borda oeste nos manda o intenso e constante vento resultante do quadrante NE/E, a região pode ser considerada o semiárido fluminense. Essa classificação se ampara, principalmente, no baixíssimo índice pluviométrico da região, impulsionado também pela presença da Laguna de Araruama, maior laguna hiper salina do mundo.
Esse mesmo vento intenso e bem frequente, aliado à posição geográfica e a situação de cabo (frio) da região, ocasiona um fenômeno oceanográfico quase que exclusivo - acontece também menos frequente e menos intenso no Farol de Santa Marta/SC - que faz de Arraial do Cabo a capital do mergulho, com uma das maiores biodiversidades do país. Por conta de um fenômeno físico, chamado de transporte de Ekman, o vento nordeste empurra a água superficial (foto)
mais quente (corrente do Brasil) pra fora da costa, permitindo a RESSURGÊNCIA de uma massa d'água do fundo, fria (abaixo de 18°C) e rica em nutrientes, uma vez que nenhum organismo a utilizou na fotossíntese, já que se encontrava na zona afótica.
O nordeste (vento) faz parte de Cabo Frio. A cidade é estranha sem ele. O calor se destaca e os mosquitos logo fazem a festa. Entretanto, em 4 anos, não me lembro de uma semana inteira (7 dias) sem ele.

sexta-feira, setembro 26, 2014

Caboclo Bernardo

cartaz nas ruas de Regência, ES
O post de reabertura desse espaço, terá como protagonista um brasileiro, típico homem do mar, morto em 1914, porém reverenciado nas ruas até os dias de hoje (foto ao lado). Bernardo José dos Santos, vulgo, Caboclo Bernardo
Nascido em 1859, na Vila de Regência Augusta, ES, sempre levou sua vida atrelada à pesca e ao mar. 
No entanto, na madrugada do dia 7 de setembro de 1887, uma noite tempestuosa e de mar revolto, o Cruzador Imperial Marinheiro (foto), que estava em campanha, rumo à Abrolhos, chocou-se com o pontal sul da barra do Rio Doce (foto).
Pontal sul da barra do Rio Doce.
Doze tripulantes desceram num bote pra tentar conseguir ajuda, porém apenas oito chegaram até a praia. A população mobilizou-se pra auxiliar, porém pouco pode ser feito, devido às adversas condições do mar. Ao amanhecer do dia seguinte, Bernardo resolveu utilizar seu preparo físico e conhecimento do local pra levar, a nado, um cabo espia pra auxiliar no resgate do restante da tripulação.


Cruzador Imperial Marinheiro
Nessa atitude, considerada por muitos como insana, o caboclo foi 'cuspido' por Netuno 4 vezes, mas na 5ª tentativa, conseguiu 'varar' a violenta arrebentação e o cabo foi amarrado ao navio.
Bernardo, ao lado de três marinheiros do navio de guerra, participou de todo o processo do resgate, acompanhando os náufragos até a praia num pequeno bote amarrado ao cabo. Graças aos esforços de todos, após cinco horas de luta, salvaram-se 128, dos 142 tripulantes do Imperial Marinheiro.
Depois disso, o 'herói' recebeu diversas homenagens públicas por parte da Marinha de Guerra, recebendo até uma medalha e um diploma da Princesa Isabel. Passadas as condecorações no Rio de Janeiro, Bernardo voltou à sua pacata rotina de pescador e chegou a participar ainda, de outros resgates de outro navios, mas nada que se assemelhasse ao Imperial.
No dia 03 de junho de 1914, Caboclo Bernardo foi covardemente assassinado com um tiro de garrucha à queima roupa, na porta de sua casa.
Antes disso, já tinha, praticamente, caído no esquecimento, entretanto sua morte trágica acabou resgatando sua imagem heroica. Particularmente, graças ao esforço do historiógrafo capixaba Norbertino Bahiense, o nome do herói passou a ser integrado à paisagem urbana de Vitória, batizando logradouros e tendo bustos figurativos erguidos em sua homenagem.
A figura do Caboclo Bernardo tornou-se maior que a história e acabou por se integrar às lendas e à cultura da Barra do Rio Doce. Desde 1930, em Regência é apresentado um "Auto do Caboclo Bernardo", onde a vida, o ato heroico e a morte estúpida de Bernardo são encenados.
Na primeira semana de junho, todos os anos, acontece no distrito de Regência a "Festa de Caboclo Bernardo". Durante as festividades, a foto do Caboclo Bernardo é exposta num altar, juntamente com as imagens de São Benedito e Nossa Senhora Aparecida, transformando-o numa figura quase que sagrada.
Point 2, Regência, Linhares, ES.
  Aí eu me pergunto: será que Bernardo surfava? porque onde ele viveu quebram aaaaaltas ! kkk





quinta-feira, agosto 11, 2011

Canal do antigo mangue

Retomo os trabalhos desse espaço, para fazer uma sugestão às autoridades. Sugiro que retirem a palavra mangue do canal que rasga de uma ponta a outra o coração da cidade maravilhosa, uma vez que nunca consegui identificar nele, sequer vestígios de vegetação desse farto ecossistema, outrora denominado Saco de São Diogo. Como podemos facilmente identificar, o que restou foi apenas um 'valão' canalizado que carrega, entre os mais variados detritos (defuntos, sofás, etc), esgoto a céu aberto.
Foto tirada em 2010 (Jornal O Dia)
A canalização de 1176m do que restou do Estuário de São Diogo, obra encomendada pelo imperador ao Barão de Mauá, iniciada em 1857 e inaugurada em 1860, representou, segundo os lusitanos, a maior obra de saneamento da época. Afinal de contas, ora pois pois, na opinião deles, seria necessário dessecar as áreas alagadiças que ocupavam naturalmente grandes extensões daquela região - alguém ainda duvida do aspecto natural das atuais e frequentes enchentes na Praça da Bandeira? – e significavam, também segundo os portugas, apenas focos de doenças, mosquitos e exalações desagradáveis. A partir dessa premissa, foi escavado o canal pra despejar toda aquela água na, ainda exuberante, Baia de Guanabara.

 
Segundo pesquisadores que estudam a região, o Saco de São Diogo consistia em um extenso braço de mar, bastante largo em sua embocadura, estreitando-se progressivamente ao seu interior. Recebia a contribuição de diversos rios, entre eles o Iguassú (atual Rio Comprido), o Maracanã e o Catumbi. Os extensos manguezais, denominados pelos nossos queridos colonizadores de Pântano de São Diogo, possuíam uma extensão de 8 Km2, atingindo à direita o atual Campo de Santana - um antigo terraço de areias marinhas, elevado em relação aos mangues – e à esquerda a atual Praça da Bandeira, seguindo como alagadiço até a Tijuca, que aliás tem esse nome oriundo da palavra tejuco (brejo em tupi). Ancorada ao Morro de São Diogo, de um lado da boca do estuário e região da atual (futura ex) Rodoviária Novo Rio, existia uma praia arenosa chamada Praia Formosa, enquanto na outra margem existia a Praia de São Cristovão, ocupando a região onde hoje funciona o Cemitério do Caju.
Há pouco menos de 2 meses, foi publicada uma matéria em um jornal carioca, noticiando que os tempos de abandono da região estavam com os dias contados, pois já foi escolhido um projeto para a revitalização da área da Leopoldina, visando as olímpiadas de 2016 . Dentre os benefícios que serão deixados como o grande legado dos Jogos, segundo o nosso idolatrado prefeito, estão um hotel cinco estrelas de 45 andares, 500 quartos e 150 m de altura, entre outros prédios que ocuparão extensos terrenos concentrados, principalmente, na Av. Francisco Bicalho, pavimentação que margeia o atual canal.
Não queria nem tocar nesse assunto, mas essa inconveniente tarefa de falar de dinheiro tornou-se inevitável diante dos resultados das pesquisas por mim realizadas aqui na grande rede. O financiamento de toda essa ""revitalização"" seguirá o mesmo modelo utilizado no sambódromo e na vila olímpica de 2016. Na passarela do samba carioca, a AMBEV pagará a conta da reforma, e em contrapartida, terá o direito de erguer um prediozinho comercial de 26 andares no local. Já no segundo caso – o da vila olímpica – a construtora Carvalho Hosken financiará (são tão bonzinhos né?) a construção de toda a vila e, depois de 2016, poderá negociá-la como empreendimento imobiliário. A desculpa da prefeitura para aproveitar esse "momento mágico" que a cidade vive, é que incentivando o investimento da iniciativa privada, o dinheiro público poderá ser canalizado para obras de infraestrutura (leia-se algum banco nas Ilhas Cayman).

Dentre as inúmeras vantagens apontadas pelos nossos governantes, não foi possível ler em nenhuma linha algo relacionado com a mitigação de problemas ambientais. Se existe essa preocupação, ela está guardada a 7 chaves.
 



 

sábado, janeiro 01, 2011

Lago Azul e engarrafado.

  
Após tanto tempo de inatividade, e aproveitando o gancho de um novo ano que se inicia, venho demonstrar minha preocupação sobre uma questão que envolve diretamente a substância essencial à vida: a Água.

Os temores (meu e de milhões de outras pessoas) de que a água se tornasse uma commodity (mercadoria em estado bruto, produzidas em grande quantidade, por diferentes produtores, possuindo cotação e 'negociabilidae' nas bolsas de mercadorias) estão se confirmando. Um polêmico projeto de exportação de água que tem como fonte de 'matéria-prima' o Blue Lake, um lago localizado na cidade de Sitka, Alasca (EUA), com águas tão puras que sequer precisam ser tratadas para serem bebidas, pode estar representando o ponta pé nicial de uma modalidade de negócio que vai totalmente contra os príncipios de sustentabilidade.

Duas empresas pretendem tirar do 'Lago Azul', nos próximos meses, cerca de 320 milhões de litros de água, que serão transportados de navio até uma fábrica na Índia, onde a água será engarrafada e vendida para o mercado local (os rios da Índia estão criticamente poluídos) e também a países do Oriente Médio, locais que naturalmente sofrem com a escassez desse imprescindível recurso.

Uma das empresas, a True Alaska Bottling, comprou o direito de explorar 10.9 bilhões de litros de água por ano, o que pode gerar para os cofres da pequena cidade de Sitka (de apenas 10 mil habitantes) até U$ 90 bilhões (=R$ 149,4 bilhões) por ano, dependendo das vendas.

Já a outra empresa, a S2C Global Systems, ficou responsável pela construção de um mega porto na costa sul da Índia, onde a água será recebida, armazenada, engarrafada e distribuída.

Não quero colocar aqui aquela já batida porcentagem de disponibilidade de água doce no planeta, mas fica a pergunta: quando vamos entender que a água não é um recurso infinito?

quinta-feira, julho 22, 2010

Já era tempo...

Foram precisos exatos 3 meses para que a British Petroleum conseguisse 'estancar' o vazamento de óleo que, de sobra, é o causador do maior desastre ambiental da história dos EUA. Fazendo uma simples conta de multiplicar, talvez não consigamos ainda ter a verdadeira noção da grandeza dessa 'mancha' de óleo.

Como havia falado antes (Um horizonte preocupante...), o óleo vazava a uma taxa de 795.000 litros/dia. Multiplicando 795 mil litros por 91 dias encontramos 72.354.000 litros de óleo cru espalhado pelo mar, tanto na superfície, quanto ao longo da coluna d'água.

A equipe de contenção, que conta com cerca de 40.000 pessoas e mais de 5.000 embarcações, conseguiu recolher, ou queimar 'controladamente', parte desse óleo, mas a imensa maioria dele ainda está no Golfo do México ou já atingiu a costa.

A empresa britânica já demonstrou por diversas vezes que prefere pagar pelos erros do que tomar medidas para evitá-los. As multas aplicadas pelas autoridades norte-americanas, nos último 5 anos, chegam a cifra de US$ 485 milhões, quantia que mais parece 'trocadinho' perto dos US$ 5,65 bilhões de lucro conseguido somente no 1º trimestre de 2010.

A preocupação se manisfesta quando transporto esse cenário catastrófico para águas tupiniquins, uma plataforma continental repleta de enormes quantidades do "Ouro Negro", na iminência de uma exploração em grandes profundidades (Pré-Sal). 

Será que estamos preparados para uma tragédia desse tipo? Será que a nossa legislação ambiental está bem amarrada em relação à possíveis vazamentos dessa magniutude? Mesmo em caso positivo, será que as autoridades serão capazes de fiscalizar tais explorações? Será que teremos um plano de contingência eficaz para um acidente nessas proporções?

Para ajudar na reflexão, fica aqui mais algumas imagens