Tudo começou em um 1º de Janeiro de 1502, quando três Naus lusitanas adentraram a Baía de Guanabara, impulsionados pela fase de frio intenso e enormes nevascas que assolavam a Europa e a Ásia, desvendando assim a imagem desse paraíso tropical para o mundo. Naquele longíquo verão, as águas da Guanabara foram palco de um choque de dois mundos, de duas concepções de vida, de dois universos distintos. Dentro das enormes embarcações impulsionadas pelo vento, portugueses, agentes do mercantilismo europeu, preocupados em conquistar novas terras e mercados para a produção de mercadorias com valor de troca. Já nas frágeis canoas e ubás, movidas a braços fortes, estavam os nativos desse paraíso, organizados num sistema primitivo de socialismo, totalmente despreocupados com a acumulação de bens e riquezas, retirando da Natureza apenas o necessário para o sustento.
A Natureza era pródiga, bela, exuberante, majestosa. O mar colidia com os pontões e costões que emolduram a Guanabara. Os manguezais se estendiam por quase todo o litoral. Dezenas de lagunas e brejos alinhavam-se atrás das restingas. tangenciadas por praias de areia extremamente claras. Pitangueiras, cajueiros, orquídeas e cactos enfeitavam as dunas e restingas.
Este cenário paradisíaco, tanto decantantado em prosa e verso, não durou muito tempo. Primeiro, veio a devastação do pau-brasil, posteriormente as preocupações de cupação e defesa, que resultaram inclusive na fundação de nossa Cidade Maravilhosa de São Sebastião do Rio de Janeiro, continuando com os ciclos econômicos da cana-de-açúcar, mineração, café e finalmente a industrialização, a região foi sendo ocupada, e a mata sucumbindo.
O sítio geograficamente impróprio para acolher uma ocupação permanetemente - e que tinha inicialmente a função defensiva-, passa a ser uma cidade portuária e comercial. Esta, para crescer, soterrrou estuários, enseadas, lagunas, brejos, manguezais (qualquer ligação com os bairros mais afetados pelas nossas atuais enchentes não é mera coincidência, não, tá?), e ainda arrasou morros e ilhas.
O sítio geograficamente impróprio para acolher uma ocupação permanetemente - e que tinha inicialmente a função defensiva-, passa a ser uma cidade portuária e comercial. Esta, para crescer, soterrrou estuários, enseadas, lagunas, brejos, manguezais (qualquer ligação com os bairros mais afetados pelas nossas atuais enchentes não é mera coincidência, não, tá?), e ainda arrasou morros e ilhas.
As manadas de baleias, entre jubartes, cachalotes e espardates, que tanto adentravam as águas da Guanabara (vide pintura abaixo, por Leandro Joaquim, 1780), foram impiedosamente caçadas, em larga escala, fazendo com que este cetáceo tão abundante desaparecesse da Baía.
Dessa atividade predatória resultou inclusive o nome de um dos lugares atualmente mais visitados por turistas no RJ. A Ponta do Arpoador, tinha a função de observatório da chegada das manadas de baleia, onde, muitas das vezes eram arpoadas dali mesmo. Arpoadas e levadas para a Ponta da Armação (Niterói) eram esquartejadas a machado, e delas se extraiam a carne para a alimentação, o óleo para a iluminação da cidade e a borra, chamada também de galagala, que misturada com a cal do reino (concha moída), formava um excelente cimento, muito utilizado nas construções da época.
O governo português monopolizou a caça até meados do sec XVII, entregando-a depois a particulares, por meio de contrato de armação O mais célebre dos armadores foi um Sr. chamado Brás de Pina, que enriqueceu tanto, às custas do extermínio de baleias, que pode adquirir vastas terras na região onde hoje existe um bairro que ostenta seu nome.
Segundo o Prof. Elmo Amador, a Baía de Guanabara é emblemática, uma genuína representante dos frágeis e reprodutivos ecossistemas costeiros tropicias, que resultantes de uma longa evolução, foram submetidos à uma rápida degradação ambiental e social. A Ganabara representa o personagem principal de uma história que permite o julgamento do desatre da colonização e da dominação capitalista dos países do Terceiro Mundo, com a subjugação dos seus habitantes e a destruição de sua natureza.